null Conheça a história do cooperativismo catarinense

10/01/2022 11:43

Sociedade Cooperativa de Crédito Rural e Responsabilidade Ilimitada Caixa Rural União Popular de Porto Novo, atual Sicoob Creditapiranga, fundada em 1932

Em Santa Catarina, as cooperativas foram importantes aliadas no desenvolvimento econômico e social. O cooperativismo criou raízes profundas e marcantes, passando a fazer parte da cultura catarinense.

Assim como no Rio Grande do Sul, o cooperativismo chegou a Santa Catarina pelas mãos do padre jesuíta Theodor Amstad. As cooperativas implantadas pelo padre Amstad eram inspiradas no modelo desenvolvido por Friedrich Wilhelm Raiffeisen, na Alemanha.

O Estado já registrava suas primeiras iniciativas cooperativistas, desenvolvidas principalmente no meio rural por volta de 1842. O imigrante francês Benoit Jules de Mure tentou fundar no norte catarinense, onde hoje se encontra o município de São Francisco do Sul, uma colônia de produção e consumo baseada nas ideias de Fourier, socialista francês considerado um dos pais do cooperativismo.

No Vale do Itajaí, a pequena colônia de Rio dos Cedros registrou a constituição, em 1889, da Societá Cooperativa Del Tabaco, uma das primeiras cooperativas criadas no País. Fundada por colonos italianos, a cooperativa tinha por objetivo produzir e exportar fumo para a Europa.

Registros históricos também contam que, no Vale do Itajaí, o município de Ascurra sediou uma cooperativa agrícola fundada em 1904. No ano de 1909, a ideia do cooperativismo chegou ao Sul do Estado, na localidade de Rio Maior, município de Urussanga, onde nasceu a Cooperprima, uma das pioneiras da história cooperativista catarinense.

Outras iniciativas desse gênero, sempre em caráter isolado, se sucederam no Estado, como as sociedades cooperativas de crédito rural, chamadas de caixas populares. Uma pequena colônia do Extremo Oeste de Santa Catarina, à época chamada de Porto Novo, hoje município de Itapiranga, foi o primeiro lugar do Estado a receber uma cooperativa de crédito, em 1932. Formada por imigrantes alemães, a Sociedade Cooperativa de Crédito Rural e Responsabilidade Ilimitada Caixa Rural União Popular de Porto Novo (atual Sicoob Creditapiranga) tinha como associados agricultores, comerciantes, artesãos e prestadores de serviços. No ano seguinte, o cooperativismo ganhou força na região Oeste do Estado, com a criação da Sociedade Cooperativa Mista de Palmitos, a primeira cooperativa agropecuária formal de Santa Catarina, em funcionamento até hoje.

Na mesma época, em diferentes regiões do Estado, pequenos grupos de agricultores se organizavam em associações, que tinham o aumento da produção e a colaboração mútua como principais objetivos.

Entre as décadas de 1940 e 1950, ocorreu uma expansão nos ramos de atuação das cooperativas, que deslocaram seu eixo para além da zona rural. O período entre 1944 e 1951 em Santa Catarina foi marcado pela criação das sociedades de consumo, que tinham como objetivo atender às necessidades de compra de seus cooperados. Em 1944, em Blumenau, no Vale do Itajaí, um grupo de 101 operários da Indústria Têxtil Companhia Hering decidiu criar uma cooperativa de consumo de empregados, com a finalidade de distribuir aos cooperados gêneros alimentícios. A Cooperativa era restrita aos funcionários até 1990, quando passou a atender a toda a comunidade da região, e recebeu, em 1998, o nome de Cooperativa de Produção e Abastecimento Vale do Itajaí (Cooper).

Para levar energia a regiões distantes, surgiram, ao final da década de 1950, as cooperativas de eletrificação rural em Santa Catarina, localizadas em Forquilhinha e Salto Donner. O cooperativismo de eletrificação rural desempenhou um papel social muito importante no Estado, principalmente nos primeiros anos de atuação. A primeira cooperativa do ramo foi inaugurada em 1959, em Forquilhinha, então distrito de Criciúma, no Sul do Estado. E a segunda, no mesmo ano, foi constituída em Salto Donner, hoje município de Doutor Pedrinho. E, desde 2010, atua como produtora independente de energia elétrica, implantando e explorando uma pequena central hidrelétrica (PCH). Atualmente, outras cooperativas de eletrificação rural também desenvolvem esse tipo de trabalho.

Decididas a unir forças, as cooperativas catarinenses fundaram, em 1° de agosto de 1964, a Associação das Cooperativas de Santa Catarina (Ascoop). Liderada pelas cooperativas de consumo, a Ascoop representou o primeiro movimento rumo a um futuro sistema cooperativista. Em abril de 1970, foi eleita a primeira diretoria da Ascoop, que era presidida por Irineu Manke, de Massaranduba, com Nélson Uhlesmann na vice-presidência e Alberto Moraes na secretaria-executiva, sendo este último um importante personagem da história cooperativista catarinense.

Visionário, ele apresentava a todos os planos da entidade, com ênfase em núcleos regionais da Ascoop, ampliação da difusão dos interesses cooperativos pela imprensa e defesa da não incidência do ICM nas transações de cooperativas com seus associados, uma batalha que durou anos.

A Ascoop cresceu e se organizou, vindo a se tornar a Organização das Cooperativas do Estado de Santa Catarina (Ocesc) em agosto de 1971, assim como previa a legislação, e incorporada à Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB). A mudança manteve Irineu Manke na presidência, Ivo Vanderlinde na vice-presidência e Alberto Moraes continuou como secretário-executivo.

Em abril de 1969, nascia um dos maiores expoentes do cooperativismo no Estado: a Cooperativa Central do Oeste Catarinense (Coopercentral Aurora), sob a liderança de Aury Luiz Bodanese. Nas décadas seguintes, a Aurora se tornaria um dos maiores conglomerados industriais do País, com cerca de 70 mil associados.

No ano de 1971, surgia uma das primeiras cooperativas de serviços médicos do ramo de saúde no Estado, a Unimed, grande força do setor até os dias atuais.

Outro marco da história do cooperativismo que destacou de Santa Catarina nacionalmente foi a realização, em 1972, do Congresso Brasileiro de Cooperativismo na capital catarinense, quando o Brasil passaria a conhecer o Estado como exemplo de cooperativismo.

Visando ampliar a capilaridade de suas ações, em 1973 a Ocesc inaugurou núcleos regionais nas cidades de Chapecó e Videira, no Oeste do Estado. Naquele ano, a Organização contava com 196 filiadas e mais de 70 mil associados.

Criada em novembro de 1973, a Federação das Cooperativas de Eletrificação Rural de Santa Catarina (Fecoerusc) reuniu cerca de 20 cooperativas e tinha o compromisso de atuar junto à Eletrificação Rural de Santa Catarina (Erusc), órgão do Estado que construía as estruturas físicas por meio de empreiteiras e as entregava às cooperativas. A Fecoerusc teve participação fundamental na expansão do setor no final dos anos 1970.

Em julho de 1975, nasce a Federação das Cooperativas Agropecuárias de Santa Catarina (Fecoagro), com o desafio de organizar as exportações do setor. O primeiro presidente foi Aury Bodanese.

Ao final de 1980, as 144 cooperativas filiadas à Ocesc reuniam mais de 150 mil associados. O ramo mais representativo era o agropecuário, com 57 filiadas e ultrapassando os 55 mil associados.

Sicoob SC/RS
O Sicoob Central SC/RS nasceu no dia 8 de novembro de 1985, quando 27 delegados representantes de sete cooperativas singulares de crédito e duas de produção rural, reuniram-se em Itapema (SC) para fundar a Cooperativa Central de Crédito Rural de Santa Catarina (Cocecrer/SC). O objetivo, à época, era “organizar em comum e em maior escala os serviços econômicos e assistenciais de interesse das filiadas, integrando e orientando suas atividades”. 

Depois de passar por uma reestruturação interna, em 31 de outubro de 1997 a Cocecrer/SC passou a integrar o Sistema de Cooperativas de Crédito do Brasil (Sicoob) e mudou o nome para Cooperativa Central de Crédito de Santa Catarina (Sicoob Central SC). Em 2009 com a permissão do Banco Central do Brasil para atuar também no Rio Grande do Sul, se transformou em Sicoob Central SC/RS.

Frencoop
Para apoiar as políticas em favor do cooperativismo, em 1987 é criada a Frente Parlamentar Cooperativista na Assembleia Legislativa de Santa Catarina (Frencoop/SC). O Estado foi o primeiro a criar a Frente Parlamentar logo após a instituição da Frencoop no Congresso Nacional. Muitas leis em benefício e apoio ao setor começam a surgir e, inclusive, passam a fazer parte da Constituição catarinense, promulgada em outubro de 1989.

Este crescimento do cooperativismo catarinense seguia a passos firmes. Em 1988, eram 149 cooperativas e mais de 279 mil associados, além de quase 10 mil funcionários atendendo direta ou indiretamente 1 milhão de pessoas – um quarto da população total do Estado na época.

No início do século 21, mais precisamente em 2005, os números do setor cooperativista em Santa Catarina eram surpreendentes: 300 cooperativas, mais de 600 mil associados, cerca de 20 mil funcionários e um movimento financeiro de mais de R$ 6,3 bilhões por ano.

E essa história rica continua a crescer, assim como o setor, alcançando números expressivos a cada ano. O cooperativismo catarinense segue sendo exemplo para o Brasil com suas ações surpreendentes e números que impressionam, conferindo o mais amplo sentido à palavra cooperação!

Fonte: Ocesc – Dados históricos extraídos do livro “Ocesc: 40 anos”, (com acréscimo do Sicoob Central SC/RS).