null O próximo passo para a inovação no Brasil deve ser a metrificação, diz especialista

24/02/2021 17:47

Dados são do relatório do Observatório da Inovação, do Centro de Referência de Inovação da Fundação Dom Cabral

Seis por cento da receita líquida das empresas atuantes no Brasil devem ir para a inovação. Este é o montante estimado, tanto para 2021 quanto 2022, indicado no primeiro relatório do Observatório da Inovação, do Centro de Referência de Inovação da Fundação Dom Cabral (FDC), ao qual o portal Whow! teve acesso. O Sicoob, por intermédio do Bancoob, é um dos patrocinadores do Observatório.

Mas por que não há um aumento nesta expectativa de um ano para o outro? De acordo com Hugo Tadeu, pós-doutor em modelos matemáticos para tomada de decisão pela Universidade da Colúmbia Britânica no Canadá e coordenador o relatório na FDC, deve-se considerar o histórico de anos anteriores, quando este investimento nas companhias era quase menos da metade, entre 2% e 3% da receita líquida. “As empresas, como IBM e Petrobras, estão colocado o dinheiro na inovação de processos e isso traz uma mensagem positiva, pois todos vinculam a inovação ao glamour da tecnologia”, destaca ao Whow!.

O estudo foi realizado com metade das 24 empresas patrocinadoras do Observatório (MRV Engenharia, Banco do Brasil, Andrade Gutierrez, ArcelorMIttal, Mercedes-Benz, Nexa, Vale, Votorantim, Jacto, Spassu Tecnologia, Oxiteno, Time-now Engenharia, Pottencial Seguradora, Embraer, Bancoob, IR BrasilRE, Localiza, Fiesc, GrupoÁguIa Branca, Alelo, Subsea 7, Petrobras, Prosseguir, Hydronorth) e por um motivo contratual a instituição não revelou o nome das companhias participantes do estudo. A finalidade do relatório executivo é gerar uma análise, bem como métricas de inovação sobre as empresas brasileiras.

Outros dados que chamam a atenção passam pela expectativa de investimento, respectivamente de 40% em 2021 e 45% em 2022 dos recursos de treinamento em qualificação dos colaboradores em inovação. As empresas vão buscar uma aceleração no tempo de desenvolvimento das inovações 35% menor em 2021, em comparação com 2020, e 40% menor em 2022, em comparação com este ano. Além disso, as empresas esperam um aumento de 70% no número de ideias geradas em relação aos anos anteriores.

Foco na inovação de processos
Segundo Hugo, o novo estudo, que será mensal, traz luz para a necessidade de se acompanhar os indicadores de inovação com reflexo nas companhias. “Temos empresas (no Brasil) que nunca foram de compartilhar dados de inovação. Inovação tem a ver com um processo estruturado e com práticas de investimento”, diz.

O coordenador da pesquisa também comenta que o foco na inovação de processos, por parte das empresas atuantes em solo nacional, tem um objetivo claro: ganho de produtividade. “Dentre dos ganhos de produtividade, a área de treinamento estimula a capacitação da mão de obra, ou seja, não adianta criar uma estrutura de inovação, sem que seja conhecido o que se espera da inovação”, comenta. Ele ainda deixa um questionamento: “Como avançar com tecnologia, quando as pessoas sabem pouco sobre o tratamento de dados?”

Dados apresentados também indicam a estimativa que 2021 apresente-se com 22% de aumento nos ganhos de produtividade nos processos internos em relação às receitas líquidas, enquanto 2022 é esperado terá 27,5% de melhora.

Necessidade da metrificação
“Os gestores de inovação devem mostrar o quanto contribuem para o crescimento das empresas. E a palavra-chave precisa ser que a inovação requer disciplina, rigor técnico e resultado financeiro de curto e longo prazo”, diz Hugo Tadeu, pesquisador e professor na Fundação Dom Cabral. 

Se por um lado a inovação em processos está em alta, a inovação social não compartilha do mesmo nível de entusiasmo das empresas respondentes. Tanto para este ano quanto no próximo, o nível da estimativa para recursos distribuídos em inovação social representará um terço do que é esperado para a inovação de processos.

“Na parte qualitativa, as empresas ainda não têm mecanismos de avaliação de práticas ESG (conjunto de práticas ambientais, sociais e de governança, que pode ser usado para guiar investimentos e escolhas de consumo focadas em sustentabilidade). As empresas ainda não sabem mensurar esta área. Existe a iniciativa, mas não o seu impacto”, afirma Hugo, que também atua no time de especialistas na área de inovação do Fórum 

Então como realizar a mensuração da inovação nos seus diferentes formatos? Para o especialista é preciso “ter clareza de portfólio”. “Essas empresas ainda caminham para ter um portfólio de inovação. Têm uma estratégia, discutem parcerias, mas precisam chegar e medir a inovação e ter métricas. Mensurar para o negócio corporativo quanto para a sociedade e assim sair do intangível para o mensurável”, comenta.
Empresas para serem observadas

Na parte final do relatório 10 empresas aparecem com o título “Para serem observadas”, são elas: Magazine Luiza, WEG, Natura, Localiza, Intermédica, Lojas Americanas, B2W, Via Varejo, Totvs, Unidas, Duratex e Fleury. E o que as separa das demais empresa no Brasil são quatro fatores, segundo Hugo: solidez com governança, estratégia de inovação, recorrência em projetos de inovação e geração de caixa, com alto Ebitda (Ebitda é a sigla em inglês para Earnings before interest, taxes, depreciation and amortization. Em português, “Lucros antes de juros, impostos, depreciação e amortização” - também conhecida como Lajida).

É um indicador muito utilizado para avaliar empresas de capital aberto).
“Elas têm ampla expectativa de reinvestimento e também acquihire (em que o foco é a contratação dos funcionários), com investimentos em projetos de inovação. A nossa intenção não é recomendar investimentos, mas mostrar aos investidores para olharem para empresas que gerem caixa”, pontua o coordenador do relatório da FDC. 

A inovação no Brasil em 2021
De forma geral, o professor da Fundação Dom Cabral faz uma leitura positiva sobre o cenário da inovação no Brasil. Ele comenta que a maior conexão entre startups, fundos de investimento e universidades já é um bom indicativo do empreendedorismo no país.

Além disso, para ele, o ambiente público teve ações para o desenvolvimento do ecossistema, como Marco Legal das Startups, incentivos do BNDES para investimento em máquinas e equipamentos.
Já no quesito de próximos passos para a evolução da inovação no Brasil, ele deixa uma dica: “os gestores de inovação devem mostrar o quanto contribuem para o crescimento das empresas. E a palavra-chave precisa ser que a inovação requer disciplina, rigor técnico e resultado financeiro de curto e longo prazo”.

Ele ainda pontua um aspecto macro para e evolução do ecossistema no país. “O Brasil também precisa de uma inserção maior nas cadeias globais de valor e ter um acesso maior de pesquisa e parcerias. Esta troca seria interessante para o nosso crescimento”, conclui.

Fonte: Whow! – com acréscimo do Sicoob Central SC/RS.