null Governança em cooperativas e o papel estratégico do Conselho de Administração

03/09/2025 17:40

Com o avanço das cooperativas de crédito no mercado financeiro nacional muitos Conselhos de Administração estão mudando sua forma de atuação

Este artigo dá algumas dicas de como profissionalizar o Conselho de Administração em cooperativas de crédito, reforçando a governança e adotar pensamento estratégico contínuo – sem perder de vista o propósito e o desenvolvimento regional.

O crescimento das cooperativas de crédito
Nos últimos anos, as cooperativas de crédito conquistaram espaço inédito no mercado financeiro nacional. Em muitos municípios e até em alguns estados, elas deixaram de ser apenas alternativas aos bancos tradicionais e se transformaram nas principais instituições financeiras da região. Esse avanço acelerado exige uma reflexão profunda: como os Conselhos de Administração devem atuar diante dessa nova realidade?

Se antes bastava aprovar relatórios e acompanhar resultados, agora o Conselho precisa atuar com visão de longo prazo, fortalecer a governança e orientar a gestão para a perenidade. Além disso, vale lembrar: a Organização das Nações Unidas declarou 2025 como o Ano Internacional das Cooperativas, reconhecendo o impacto do cooperativismo no desenvolvimento econômico e social. Portanto, a hora de elevar o nível de profissionalismo do conselho é agora.

Mandato do Conselho: resultado financeiro + desenvolvimento regional
Cooperativas equilibram sustentabilidade econômica com desenvolvimento social e regional. Logo, o Conselho funciona como guardião do propósito: assegura saúde financeira e, ao mesmo tempo, verifica se as decisões fortalecem a economia local, geram oportunidades e ampliam o bem-estar na sociedade da região onde a cooperativa atua.

Na prática, o Conselho deve: definir diretrizes que conectem orçamento, risco e impacto regional; priorizar projetos que ampliem inclusão financeira e competitividade do território; exigir indicadores que mostrem, simultaneamente, performance e impacto.

Governança que inspira confiança e disciplina a execução
A governança traduz princípios em práticas que protegem a cooperativa em ciclos de crescimento. O Conselho deve estabelecer regras claras, medir riscos com rigor e comunicar com transparência aos associados.

1) Estruturas essenciais
Agenda de Conselho orientada para o futuro: reservar tempo adequado para temas estratégicos, não só para resultados do mês. A maior parte da reunião do Conselho deve ser focada no futuro, não no passado.

Comitês (Riscos, Auditoria, Pessoas/Remuneração, Ética/Integridade): a existência de comitês permite que haja foco, profundidade e cadência nos temas que são de responsabilidade do Conselho.

Políticas críticas: cabe ao Conselho de Administração fixar o apetite a riscos, definir políticas de renovação e sucessão, políticas de remuneração (entre outras) e garantir a integridade dos dados e informações.

2) Supervisão estratégica da Diretoria Executiva
O Conselho deve supervisionar a atuação da Diretoria Executiva sem interferir nas atividades operacionais. Em voz ativa, ele: define diretrizes e cobra coerência com o propósito; questiona premissas, pede cenários e acompanha riscos-chave; monitora marcos e ajusta rota com base em evidências, não em impressões; fronteira saudável: o Conselho decide “se” e “por quê”; a diretoria decide “como”.

Estratégia em duas camadas: pensamento contínuo e planejamento por ciclos
Aqui está o ponto-chave. Pensamento estratégico e planejamento estratégico não são a mesma coisa – e cada qual tem dono.
Pensamento estratégico (do Conselho): é permanente, 24×7. O Conselho mantém “a lente do futuro” ligada o tempo todo, antecipando tendências, identificando riscos emergentes e abrindo novas possibilidades para a cooperativa.

Planejamento estratégico (da Diretoria): ocorre em janelas definidas (por exemplo, a cada três anos, com revisões anuais). A Diretoria detalha metas, roadmaps, recursos e prazos para executar as diretrizes aprovadas pelo Conselho.

1) Como o Conselho exercita o pensamento estratégico?
Faz perguntas de alto impacto: devemos entrar em novo mercado? Qual forma de crescimento faz sentido aqui? O que pode ameaçar nossa relevância regional?

Olha além das “marolinhas”: evita aprisionar a pauta nos problemas do dia e prioriza a perenidade.

Exige cenários e opções: crescimento orgânico versus parcerias; expansão física versus digital; diversificação versus foco.

2) Exemplos práticos
Expansão a novos mercados: o Conselho avalia se faz sentido entrar em uma região adjacente; a Diretoria define como executar (formato de agência, canais, parceiros).

Conjuntura econômica e política regional: o Conselho discute impactos de juros, crédito setorial e premissas de atuação; a Diretoria recalibra o plano e a carteira de crédito.

Fusões, parcerias e integrações: o Conselho decide a tese (por quê, quando, com quem) e define salvaguardas; a Diretoria conduz a diligência e a integração cultural/operacional.

Em síntese: o Conselho pensa estrategicamente o tempo todo. A Diretoria planeja e executa por ciclos, reportando aprendizados para novas decisões.

Cultura: coerência entre valores, liderança e rituais
Sem uma cultura alinhada, a estratégia tende a falhar. O Conselho atua como guardião da identidade cooperativista, garantindo que crescimento e tecnologia caminhem com ética, participação e foco no associado.

1) O que o Conselho precisa garantir
Valores traduzidos em comportamentos observáveis (ex.: transparência, respeito, segurança psicológica).

Indicadores de cultura além das pesquisas internas (percepção externa, reputação, aderência a valores).

Rituais e símbolos que reforçam o propósito e a visão de longo prazo.

2) Liderança como exemplo
Os dirigentes comunicam valores com cada gesto: como decidem, como tratam pessoas e como reconhecem boas práticas. O Conselho observa, dá feedback e exige coerência – inclusive em crises.

Como agregar profissionalismo ao conselho de administração em uma cooperativa de crédito.

Agenda robusta (trimestral e anual) com espaço protegido para estratégia.

Formação e avaliação: educação continuada dos conselheiros e board review anual.

Sucessão: pipeline de novos conselheiros e critérios objetivos de seleção.

Indicadores e painéis: poucos, relevantes e acionáveis (negócio, risco, cultura e impacto regional).

Transparência com associados: relatórios claros sobre decisões e resultados.

Protagonismo responsável e olhar para o futuro
As cooperativas de crédito alcançaram protagonismo regional. Para sustentar esse avanço, o Conselho de Administração precisa liderar estrategicamente, reforçar a governança e zelar pela cultura, equilibrando resultado e desenvolvimento regional. Assim, a cooperativa preserva sua identidade, expande com segurança e cria valor duradouro para associados e para a sociedade da região.

Fonte: Portal do Cooperativismo Financeiro.