Secretário estadual da Agricultura e da Pesca, Airton Spies: "agricultura familiar não é e não pode ser sinônimo de agricultura pobre" 

O secretário da Agricultura e da Pesca do Estado de Santa Catarina, Airton Spies ministrou a palestra de abertura do 1º Workshop de Crédito Rural do Sicoob Central SC/RS, no dia 16 de julho. Municiado de muitas estatísticas, o engenheiro agrônomo e administrador de empresas disse que as perspectivas para quem produz alimento são muito boas, em função das necessidades em expansão nos mercados internacional e nacional, mas ao mesmo tempo apontou os desafios no modelo de produção no Brasil e em Santa Catarina. A última geração de ‘agricultores por acaso’ vai se aposentar nos próximos anos e para manter o jovem no campo, vai ser necessário garantir renda, participação na gestão (quando a propriedade ainda for dos pais), internet e tecnologia, estradas boas e qualidade da casa, lazer e tempo livre, férias, humanização do trabalho, reconhecimento e autoestima, ou seja, um enorme desafio, disse Spies. Ele informou que Santa Catarina tem 29.500 propriedades rurais sem sucessores em potencial, que são aquelas com pais com mais de 50 anos e já sem nenhum filho residente no campo.

Ao mesmo tempo, apontou as enormes perspectivas para quem deseja produzir alimentos. A atual população mundial de 7,3 bilhões de pessoas, vai aumentar para 9,4 bilhões em 2050, um aumento de 40%. Na África a população vai aumentar 100%. Estudos apontam que o consumo de alimentos no planeta vai crescer 75% e a produção de proteínas vai dobrar de tamanho.

A pressão por alimentos vai aumentar exponencialmente com a continuidade da migração do campo para as cidades e a perspectiva de melhoria da renda nos países dos BRICs, que são os mais populosos. Tudo aponta para ótimas perspectivas de renda para quem se dedicar à produção de alimentos, resumiu o palestrante.

E, nesse contexto, Santa Catarina aparece como um produtor de excelência. Com 95 mil quilômetros quadrados de área (apenas 1,12% do Brasil, somente o 20º em extensão) e uma população de 7,1 milhões de habitantes (11ª maior), é o sexto maior economia agrícola do País, com uma produção de R$ 249 bilhões.

E com características peculiares, pois 90% das 195 mil propriedades rurais têm menos de 50 hectares e 84% são classificadas como de agricultores familiares. Santa Catarina prova que agricultura familiar não é e não pode ser sinônimo de agricultura pobre. O agronegócio em Santa Catarina é responsável por 29% do PIB estadual.

O Estado é o primeiro produtor de suínos, cebola, maçã, pescados, ostras e mexilhões; o segundo em tabaco, aves, arroz e produtos florestais; o terceiro em alho e trigo; o quarto em leite e banana e o quinto em uva. Com mais de 500 quilômetros de costa produtiva, é o primeiro Estado que regulamentou áreas de mar, com títulos de uso para o produtor. Hoje existem 821 fazendas marítimas georreferenciadas.

Santa Catarina é também o berço da produção integrada, com um sistema vertical de produção de suínos e aves. O Estado abate 1 bilhão de frangos por ano (1º produtor nacional) e mantém 8 mil produtores nessa atividade. O rebanho bovino tem 4,5 milhões de cabeças, com 20 mil produtores, além de 48 mil produtores de leite. E as cooperativas são responsáveis por 13% do PIB de Santa Catarina.

O leite é a nova estrela do agronegócio catarinense. Nós estamos no melhor lugar do mundo para produzir alimentos, pois temos muito sol, terra, água e gente competente, disse o secretário de Agricultura e Pesca, Airton Spies. Ele explicou que o mundo consome atualmente só 55% da demanda necessária de leite. Por isso, o leite é a atividade que mais cresce, acima de dois dígitos nos últimos 15 anos. O Sul produz 38% do leite brasileiro e o desafio é exportar. Temos que ser competitivos e para isso é preciso produzir leite de alta qualidade a baixo custo, em pequenas propriedades rurais à base de pasto, com cadeias produtivas bem organizadas e eficientes, respeitando o meio ambiente e o bem-estar animal, explicou Spies.

E para pequenas propriedades, como são as características do agronegócio em Santa Catarina, é preciso buscar alta produtividade e, em alguns casos, escolher a atividade certa para o tamanho e as peculiaridades da propriedade. Só para dar um exemplo, um hectare cultivado com flores emprega mais pessoas do que 100 hectares de milho, informou Spies. E equilibrar emprego e renda é o desafio para manter a qualidade de vida dos produtores rurais. Em alguns casos, a mecanização, que já faz parte do dia a dia no campo, irá aumentar, em outros, a atividade vai requerer mão de obra altamente treinada e especializada. E as cooperativas de crédito, desde que foram criadas, têm um papel fundamental para apoiar os produtores rurais e financiar as mudanças que serão necessárias no campo para manter-se produtivo.

Os produtores rurais associados ao Sicoob já demandam um total de R$ 2,2 bilhões em financiamento e custeio da safra 2018/2019. Somente nos nove primeiros dias da atual safra, que começou no dia 1º de julho, o Sicoob Central SC/RS já ativou R$ 300 milhões para as cooperativas singulares atenderem seus cooperados produtores rurais.

O 1º Workshop de Crédito Rural foi realizado nos dias 16 e 17 de julho, em Florianópolis e teve como palestrantes o secretário de Agricultura e Pesca do Estado de Santa Catarina, Airton Spies; o analista de socioeconomia da Epagri/Cepa, Tabajara Marcondes; o subgerente de Agronegócios da Central SC/RS, Rodinei Munaretto; o gerente de Agronegócios do Bancoob, Raphael Silva de Santana; a consultora de agronegócios do Bancoob, Larissa Alves Ramos; o supervisor da Corretora de Seguros do Sicoob, Lucas Varela do Amaral e a advogada e assessora Jurídica do Sicoob Central SC/R, Silvia Rosani. O workshop também foi realizado em Lages, nos dias 17 e 18 de julho e em Maravilha, nos dias 19 e 20 de julho. A coordenação foi da Diretoria de Negócios Unidade de Agronegócios.