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05/09/18

Cooperativas de crédito crescem pelos benefícios que proporcionam


Vilares: cooperativa de crédito é a fintech mais organizada do País, oferece todos os serviços financeiros, tem viés social e concorre com os bancos

A curva ascendente registrada no cooperativismo de crédito nos últimos anos deve continuar com tendência de alta. Unidos, os sistemas em funcionamento segundo dados do Panorama do Sistema Nacional de Crédito Cooperativo, divulgado pelo Banco Central em setembro de 2017 atingiram seu ponto histórico mais alto, respondendo, no Sistema Financeiro Nacional, por 3,9% do patrimônio de referência, 1,87% dos ativos totais, 2,41% na carteira de crédito e 4,26% dos depósitos.

Algumas conquistas marcaram 2017 e servem de base para as previsões sob o olhar de Manfred Alfonso Dasenbrock, presidente da SicrediPar e da Central PR/SP/RJ, além de membro efetivo da Fundação e do Conselho Mundial de Cooperativas de Crédito (Woccu, sigla em inglês) 2017 foi um ano extraordinário, em que as cooperativas andaram à margem das questões políticas e, por isso, cresceram.

O ano de 2018 promete ser muito melhor. E os primeiros dias do novo período foram marcados por um fato notório: a Lei Complementar 161/2018, que permite o início de uma relação das cooperativas com os setores públicos. Essa lei deve gerar resultados positivos, até porque as cooperativas mantêm um ótimo vínculo com a comunidade e os setores organizados, resume Dasenbrock.

Foco no relacionamento

Para favorecer esse movimento ascendente, o brasileiro que integra o Woccu recomenda que as cooperativas foquem no econômico e no social, aproveitando a necessidade que as pessoas têm de bom atendimento e de relacionamento saudável e transparente com a instituição financeira, e se relacionem com a comunidade e com seu quadro social. Isso fará a diferença e gerará um grande momento para as cooperativas de crédito. Os gestores precisam estar atentos ao credito, aos negócios e aos associados, para que haja o atendimento das necessidades dos associados sem prejuízo da atenção aos riscos. O setor é bastante regulado, o que contribuiu para a estabilidade, mas é importante não perder a oportunidade de estabelecer relação da cooperativa com seu dono, que também é o associado e o cliente.

Posição muito semelhante é assumida por Kédson Macedo, presidente da Confederação Brasileira das Cooperativas de Crédito (Confebras), ao lembrar que as cooperativas se diferenciam porque são sociedades de pessoas e mantêm proximidade com seus cooperados, o que facilita os negócios e reduz os riscos. Como principal desafio cita o investimento em ferramentas que facilitem à cooperativa melhor conhecer seu associado, que é também seu dono e seu cliente, para estabelecer um portfólio de negócio que os cooperados efetivamente consumam.

O segundo desafio listado por Macedo tem relação com a transformação digital, que contribui para a redução de custos e traz uma nova forma de relacionamento, pontos passíveis de contribuir para que as integrantes do SNCC deem um grande passo em busca do crescimento e do fortalecimento do cooperativismo.

O cooperativismo tem de ir onde seu cooperado está, dando solução financeira justa e adequada para o cooperado onde ele estiver. Nesse sentido, as cooperativas vêm cumprindo seus objetivos e os princípios cooperativistas, mas é preciso mais, reconhece o presidente da Confebras, definindo este como o momento ideal, e as perspectivas como muito boas. Estamos em um momento de muito trabalho, mas o Sistema Nacional de Crédito Cooperativo está muito bem organizado, ciente de seu papel na economia brasileira e disposto a cumprir esse papel. Tudo isso significa trabalho e contribuição para o desenvolvimento local, porque o município é a célula mais granular que temos na economia brasileira. O desenvolvimento implementado nos municípios reverbera em crescimento econômico para todo o País, afirmou.

Com a estabilização da economia as cooperativas de crédito devem esperar ter um papel mais relevante no sistema financeiro e devem se preparar para ser protagonistas. O relacionamento com as prefeituras vai ajudar muito no protagonismo local das cooperativas, e acredito que logo os efeitos serão percebidos, pois os sistemas têm estratégias definidas para buscar as associações de municípios para estabelecer parcerias. Esse será um assunto muito trabalhado neste ano e, ao final, certamente teremos o que apresentar de bem-sucedido nessa relação, prevê o presidente da Confebras.

A aproximação com as prefeituras favorecerá também ao SNCC vencer o desafio do Banco Central do Brasil, lançado por volta de 2015, e que propõe ao cooperativismo de crédito atingir 10% do Sistema Financeiro Nacional em cinco anos. Fazendo as contas, Macedo lembra que hoje as cooperativas financeiras respondem por cerca de 5% do sistema e, se o crescimento continuar na casa dos dois dígitos, como nos últimos anos, brevemente dobraremos o tamanho, cumprindo o desafio.

O público usuário dos serviços das cooperativas de crédito merece de Macedo recomendação especial. Para nossos clientes, o recado é para que acreditem que as cooperativas de crédito podem ajudar a fazer bons negócios. Para as cooperativas de outros ramos, é importante ressaltar o papel da intercooperação como princípio da doutrina cooperativista que precisa ganhar materialidade nos negócios, nos relacionamentos. É preciso efetivamente trabalhar a intercooperação, buscando os outros ramos do cooperativismo, assinalou.

A intercooperação, para Macedo, é caminho de mão dupla e compatibiliza as necessidades dos ramos com aquilo que as cooperativas de crédito oferecem. E o momento atual garante o presidente da Confebras é o de consolidação do cooperativismo de crédito e de outros grandes ramos do cooperativismo. Tem tudo para essa relação ser bem-sucedida por conta da similaridade entre as cooperativas de crédito e as demais, de qualquer outro ramo. O que falta é sentar, descobrir essas peculiaridades e trabalhar duro e forte para disponibilizar produtos e serviços que atendam os demais setores cooperativistas, observou.

A contribuição da Confebras para que o SNCC cumpra o papel que lhe está destinado na consolidação e na expansão das instituições que seguem e vivem a doutrina cooperativista no Brasil está explícita na agenda da instituição para 2018. Além do 12º Concred Congresso do Cooperativismo de Crédito Brasileiro –, que este ano será realizado em Florianópolis, a programação da instituição prevê ações em quatro áreas específicas: educação financeira e cooperativista; fortalecimento institucional do cooperativismo de crédito via monitoramento e gestões para estabelecimento de legislação e regulação adequadas; promoção de debates sobre a qualificação de dirigentes e conselheiros via certificação especial, visando, inclusive, ao processo de sucessão, uma das preocupações da autarquia supervisora (Banco Central do Brasil);  trabalho muito forte junto aos sistemas associados e Sistema OCB buscando trabalhar as questões institucionais do setor como um todo.

Prevendo manter as taxas de crescimento anual na mesma faixa da última década entre 15% e 20% em função de as cooperativas, nas épocas de dificuldades, alavancarem sua carteira, na contramão dos bancos convencionais, Henrique Castilhano Vilares, presidente do Sicoob, compara a cooperativa de crédito a startups financeiras. Para ele, a cooperativa de crédito é a fintech mais organizada que temos no País. Ela oferece todos os serviços financeiros, tem viés social e consegue concorrer com os outros bancos.

Mas para se manter à frente e crescer a taxas históricas, de acordo com Vilares, além de buscar a intercooperação, é necessário se comunicar melhor com as classes C, D e E, que ainda não sabem o que o cooperativismo de crédito faz e como trabalha. Quando mostramos o diferencial, como taxas de cartão de crédito um terço mais baixas do que as praticadas no mercado, chamamos atenção e atraímos associados.

O investimento em tecnologia e mobilidade também é ressaltado por Vilares como imprescindível à consolidação e ao desenvolvimento do setor. Hoje, por exemplo, o nosso atendimento já é 75% fora da agência, via plataforma de mobile bank e internet. Com isso, as agências estão diminuindo o trabalho mecânico, de caixa e autenticação, e se tornando cada vez mais agências de negócios, mais enxutas e proativas, voltadas a entender o cooperado e a fazer negócios com ele, ofertando vasta e diversificada plataforma de negócios. Nesse sentido, inclusive, o Sicoob está preparando-se para trabalhar com câmbio. Segundo seu presidente, falta apenas liberação do Banco Central.

Tecnologia, atenção especial

O conceito de cooperativa de crédito como fintech não está distante da realidade, por mais que possa impactar à primeira vista, afinal, as cooperativas de crédito são grandes desenvolvedoras de tecnologias que aproximem e favoreçam os relacionamentos com os associados, atuando como propulsoras do crescimento dos negócios e não inibidor do convívio entre cooperativa, cooperados e a comunidade onde atuam.

Antônio Vilaça Júnior, diretor de Tecnologia da Informação do Sicoob, destaca que os recursos tecnológicos apoiarão cada vez mais as cooperativas no relacionamento, conhecimento das necessidades e melhoria da experiência dos associados. O uso adequado da tecnologia proporciona racionalização de custos, gestão de riscos, potencialização dos negócios e personalização do atendimento aos cooperados de forma que as cooperativas sejam efetivamente a principal instituição financeira propulsora do desenvolvimento econômico e social dos cooperados.

Nesse sentido, entre as ferramentas e as soluções disponíveis, estão aplicativos, sites, atendimento digital humanizado e conta corrente digital, que permite execução de pagamentos, saques, depósitos, transferências, consultas de movimentações e uso do cartão.

No radar das áreas de Tecnologia de Informação das cooperativas de crédito estão os cuidados com a proliferação de ataques cibernéticos que afetaram desde usuários comuns até grandes corporações e governo. As questões relacionadas à Segurança da Informação devem ter prioridade na administração, serem acompanhadas pelos dirigentes e transmitidas com transparência para os cooperados. Atenção especial deve ser dada quando da contratação de ferramentas ou soluções locais nas cooperativas sem os critérios sistêmicos de avaliação técnica e de segurança, alerta Vilaça, conclamando à participação das universidades corporativas como instrumento sistêmico para propagação do conhecimento e capacitação dos funcionários.

Legislação

A Lei Complementar 161/2018, sancionada pelo Presidente da República e publicada no  Diário Oficial da União de 5 de janeiro, soma aos serviços anteriormente prestados ao poder público municipal arrecadação de tributos e pagamento da folha de proventos dos servidores o recebimento de depósitos de prefeituras e órgãos e entidades/empresas controladas pelos municípios e a gerir os recursos do Serviço Nacional de Aprendizagem do Cooperativismo (Sescoop), oriundos do recolhimento de 2,5% sobre a folha de salários das cooperativas dos diferentes ramos.

As prefeituras poderão, por exemplo, realizar o pagamento dos servidores públicos municipais diretamente nas cooperativas, revogando o parágrafo 3º, do artigo 164, da Constituição Federal, que determina que esses recursos só poderiam ser depositados em bancos oficiais.

Já a Lei 13.606, publicado no Diário Oficial da União de 10 de janeiro, além de regulamentar o Programa de Regularização Tributária Rural (PRR) para os débitos relativos ao Fundo de Assistência ao Trabalhador Rural (Funrural), traz conquistas importantes para o cooperativismo de crédito: permissão para financiamento de recurso próprio como Pronaf aos agricultores, equiparando, assim, as confederações de cooperativas de crédito aos bancos cooperativos; permite que os bancos cooperativos, as confederações de cooperativas de crédito e as cooperativas centrais de crédito integrantes de sistemas cooperativos de crédito utilizem Letra de Crédito do Agronegócio (LCA) de sua emissão como lastro.





Fonte: MundoCoop.

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