Silvio Campos Neto: Dificuldades e incertezas no horizonte político e econômico, mas com espaço para crescer
O economista Silvio Campos Neto, da Tendências Consultoria, proferiu palestra no 7º Encontro dos Dirigentes do Sicoob Credivale sobre Atualidade Econômica. Para o palestrante, que é Mestre em Economia pela Fundação Getúlio Vargas (SP), o país deve ter dois anos consecutivos de forte contração do PIB, algo que não se repetia desde 1930. No entanto, avaliou, com os bancos públicos e privados mais contidos, abre-se um espaço que pode ser muito bem aproveitado pelas cooperativas, que sofrem menos com a crise, porque têm um público mais fidelizado e o setor de agronegócio continua em alta.
O ano de 2015 está sendo considerado o da tempestade perfeita, com uma deterioração econômica acentuada pela crise política e pela Operação Lava-Jato. Precisamos recuperar a confiança, afirmou. Algo que não será fácil, pois o cenário é de ausência de grandes reformas, o que limita as perspectivas de crescimento.
As incertezas econômicas não são uma exclusividade brasileira e atinge outros países, informou. Há uma desaceleração, também, do crescimento econômico da China. Essas questões vão determinar as taxas globais de juros e câmbio, assinalou.
Para o economista, há uma alta do dólar em todo o mundo, embora mais acentuada no Brasil. Na América Latina, Colômbia, Peru, Chile e México fizeram a lição de casa e estão numa situação melhor, enquanto Venezuela, Brasil e Argentina estão tendo um desempenho pior.
Ele considera pouco provável a ocorrência de um impeachment que, se houver, será um processo judicializado de longa duração, o que pode agravar ainda mais a crise política e econômica pela ingovernabilidade. É pouco provável que seja aprovada a CPMF, o que fará o governo buscar receita com outros tributos, como a Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico (Cide) dos combustíveis.
O setor agropecuária continua em crescimento. Também o consumo cresceu o dobro do PIB, o que, neste caso, é um problema. Será preciso ajustar esse desequilíbrio, afirmou.
Silvio explicou que a festa do consumo acabou, pois há queda da renda real, aumento do desemprego, um cenário de baixa confiança para investimentos e menos crédito disponível. A expectativa da inflação para 2016 é de 6,5% e a taxa de juros deve ficar em 13%.
Projeções apontam déficit primário de 0,8% do PIB em 2015 e 0,4% em 2016. Em conjunto com a evolução negativa do PIB, o desempenho deve gerar forte alta do endividamento.
O quadro fiscal é cada vez mais crítico e a tendência para os próximo anos é de desvalorização do real e de alta do dólar. A inadimplência deve continuar subindo, mas está sob controle e, por enquanto, não preocupa. A economia mundial deve manter um ritmo de crescimento moderado.
Silvo destacou alguns pontos positivos em meio à crise do país. Disse que o mercado interno é robusto, com alta competitividade do agronegócio e da indústria extrativa. O Brasil possui um elevado nível de reservas internacionais, em torno de R$ 370 bilhões. Além disso, as instituições democráticas estão sólidas, a imprensa é livre e o Judiciário segue fazendo o seu papel de investigar os escândalos de corrupção.
Em suas conclusões, o economista-sênior da Tendências Consultoria disse que a economia mundial deve manter ritmo de crescimento moderado. China seguirá em desaceleração, mas expectativa é de pouso suave da atividade.
No Brasil, incertezas políticas e desequilíbrios econômicos mantêm quadro negativo ao menos até 2016. Porém, se o contexto é ruim para demanda interna, o cenário é mais propício às exportações.
A situação fiscal é crítica e as medidas sinalizadas não devem ser capazes de evitar a ocorrência de déficit primário em 2015 e 2016.
A economia deve continuar em contração em 2016 e retomar crescimento lento em 2017 e 2018. Porém, incertezas são muito elevadas neste momento.
Apesar da queda esperada, inflação ainda deve continuar próxima ao teto da meta em 2016. IPCA deve se aproximar da meta em 2017 e 2018.
Forte desvalorização cambial ocorreu de forma mais rápida e intensa que o esperado e veio para ficar. Fundamentos apontam para um real mais fraco.
De qualquer forma, concluiu, as instituições sólidas impedem o processo de uma argentinizaçãodo Brasil.