Diretor de Operações do Bancoob destaca temas que precisam da atenção das lideranças cooperativistas nos próximos anos
Por Ênio Meinen - diretor de Operações do Bancoob.Reunidas recentemente em Belfast, capital da Irlanda do Norte, no fórum anual do Conselho Mundial de Cooperativas de Crédito Woccu, as lideranças do segmento reafirmaram os principais pontos da agenda do movimento ao redor do Globo.
Entre os desafios da ordem do dia, repetem-se:A questão regulamentar: há incursões concretas de retrocesso ou desapoio ao setor cooperativo casos, por exemplo, da Itália e da Áustria -, além da intensificação das regras sobre capital e controle, que impõem elevado custo de observância. Nos EUA, a título de destaque, estima-se impacto da ordem de US$ 6,6 bilhões de dólares/ano para o cumprimento da carga regulatória pelas credit unions. Esses aspectos, contudo, não se reproduzem no âmbito brasileiro;
As inovações tecnológicas/digitais: aqui a preocupação, de um lado, é com os altos investimentos para suportar a evolução do parque tecnológico convencional, e, de outro, com a presença cada vez mais acentuada das fintechs startups voltadas para a prestação de serviços de natureza bancária fora do ambiente operacional tradicional e de outras soluções que conduzem à desintermediação financeira (movimentos concorrenciais);
O crescimento da base de cooperados: em razão da já elevada média de idade do quadro social, o alvo são os jovens, cada vez mais distantes do sistema financeiro tradicional e das próprias cooperativas. As mulheres também passam a ser uma meta, visto que os homens são ainda a maioria dos sócios, especialmente no Brasil;
Os juros baixos e a falta de escala: na grande maioria das economias ditas desenvolvidas estima-se que cerca de 18% do PIB é representado por nações cujas taxas de juros são iguais ou menores que zero -, as cooperativas sofrem com a combinação de juros baixíssimos (ou negativos) e escala reduzida. No Brasil, por ora, apenas a baixa escala é objeto de atenção, o que tem levado a um aumento dos processos de incorporação;
A (in)fidelidade operacional: embora o portfólio comercial das cooperativas esteja praticamente no mesmo plano do conjunto de produtos e serviços das grandes redes bancárias, o paralelismo do relacionamento bancário por parte de cooperados ainda é muito expressivo, particularmente em países como o Brasil;
A governança: a atenção neste particular volta-se, sobretudo, à formação deficiente do quadro de dirigentes e a total ausência de processos sucessórios nas cooperativas;
A preservação da identidade cooperativa: a falta de clareza, em particular com relação ao papel do cooperativismo financeiro, o descompromisso com os seus direcionadores estratégicos (visão, missão e valores) a baixa dominância de seus diferenciais doutrinários e o deslumbramento com o mercado são apontados como grandes ofensores à preservação da identidade cooperativa, gerando sérios riscos à desmutualização;
A difusão do cooperativismo e de seus diferenciais: é inegável o desconhecimento por parte de lideranças, colaboradores, associados, do poder público e da sociedade em geral sobre os apelos doutrinários, as particularidades societárias e as vantagens econômico-financeiras do cooperativismo.
Ainda que haja outros itens que requeiram a atenção das instituições financeiras cooperativas pelo mundo, esses temas, sem dúvida, irão compor os planos de ação do setor pelos próximos anos.
Dada sua relevância para a sustentabilidade do cooperativismo financeiro, dedicamos à matéria um capítulo específico no livro Cooperativismo financeiro: virtudes e oportunidades ensaios sobre a perenidade do empreendimento cooperativo, que será lançado em setembro do corrente ano, durante a realização do Concred, no Rio de Janeiro.
Ênio Meinen, advogado, pós-graduado em direito (FGV/RJ) e em gestão estratégica de pessoas (UFRGS), e autor/coautor de vários artigos e livros sobre cooperativismo financeiro área na qual atua há 32 anos -, entre eles Cooperativismo financeiro: percurso histórico, perspectivas e desafios. Atualmente, é diretor de Operações do Banco Cooperativo do Brasil (Bancoob).